3.8.15

POEMA HEREGE

Ao Carlos Drummond

pequenas
formas indeléveis
inda rompem o asfalto
da cidade
do rio de janeiro.

     para além de sessenta anos,

formas, asfalto e rio avolumam-se
          pelo caráter residual que os unem.

esse chão

onde se sentou em horário
de tamanhas procissões de crimes e angústias
- heresias desde os arcos de santa tereza
e a insubordinação mental no colégio anchieta -
             não é mais o da capital do país.

a administração pública federal
subiu a serra e seguiu trilhas de mourão
que cortam cidades mineiras
              e desembocam no planalto central.
- esse último, centro de todas as fezes -


                   resta ao rio guindastesauros

à espreita dos homens desarmados.
hoje esses homens se escondem debaixo da terra.

a saudade de tom não alça voo pelo galeão.

- e como fere ao atravessar a nascimento silva! -
o adeus de caymmi, como as ondas, vai
                     e volta no infinito das despedidas.

de costas para o mar de copacabana

- talvez carregando em si as dores de minas -
a incapacidade de se explicar desbota-se
           em uma foto de recordação para algum
     país residual do leste europeu.