24.7.15

POEMA PENDULAR

Ao Albert Camus

o gato preto
deitado à sombra da árvore
          assombra o poeta crédulo
      numa terça-feira catorze.

tua presença
      quase não se percebe,
- rabo pêndulo e pérolas cintilantes -
            pois a negritude sombral
       que o camufla e cerca
teu corpo magro
nada mais é exteriorização
               de teu lado visceral.

teus olhos em pleno silêncio
          transmitem sinistra rebeldia.

rebeldia comum aos poetas que se misturam
em tuas palavras e não sabem mais se fazem poesia
ou se são a própria poesia enraizada
           em um mundo que pisa em teus rabos.

   a noite avança,
consome resquícios de cores vivas
usadas pelo poeta-camaleão na tentativa
        de demonstrar que é felino de alta cadeia,
  mas o poeta é gato e louva a preguiça.
     sabe que, do camaleão, a melhor parte é a cama.

afinal gato e poeta não são diferentes.
nosso reino por novelo ou novela, já que
       acabam mais brevemente do que romances.
 - albert camus na certa também era um gato -

assim como o estrangeiro meursault
assassina o árabe na praia devido ao calor do sol,
o poeta sente calor, mas calor de dentro...

...e as balas são os poemas que escreve,
     compostas por pólvora, lágrima e preguiça.