Ao Albert Camus
o gato preto
deitado à sombra da
árvore
assombra o poeta crédulo
numa terça-feira catorze.
tua presença
quase não se percebe,
- rabo pêndulo e
pérolas cintilantes -
pois a negritude sombral
que o camufla e cerca
teu corpo magro
nada mais é
exteriorização
de
teu lado visceral.
teus olhos em pleno
silêncio
transmitem sinistra rebeldia.
rebeldia comum aos
poetas que se misturam
em tuas palavras e não
sabem mais se fazem poesia
ou se são a própria
poesia enraizada
em um mundo que pisa em teus rabos.
a noite avança,
consome resquícios de
cores vivas
usadas pelo
poeta-camaleão na tentativa
de demonstrar que é felino de alta cadeia,
mas o poeta é gato e louva a preguiça.
sabe que, do camaleão, a melhor parte é a
cama.
afinal gato e poeta não
são diferentes.
nosso reino por novelo
ou novela, já que
acabam
mais brevemente do que romances.
- albert camus na certa também era um gato -
assim como o
estrangeiro meursault
assassina o árabe na
praia devido ao calor do sol,
o poeta sente calor,
mas calor de dentro...
...e as balas são os
poemas que escreve,
compostas por pólvora, lágrima e preguiça.