21.7.15

MINUETO IMAGINÁRIO

À Valentina Mouta

o choro é teu primeiro
rompante ante a liberdade ofertada
         pelo princípio da vida pós-uterina.

   tuas pequenas mãos
           colhendo cerejas imaginárias no ar
    é a certeza de que nasceu poeta.
  
traça com o olhar perdido cada estrofe
de teu soneto sobre o primeiro arrepio de frio
que jamais terá sua forma definitiva em palavras,
e assim é poesia plena e primitiva,
      única essência do universo
                         antes da grande explosão.

já bem sabe, pequena,
que dentro de ti ocorrem centenas
              de milhares de explosões a cada minuto,
minuetos em angústia como choro de mozart,
mas que em raro momento - se bem chegamos
perto como beethoven ao piano na surdez -
            soa gravatas borboletas libertas em voo.

a poesia, pequena, é borboleta que
         não tem receio de novamente ser lagarta
    caso o mundo em asas necessite de uma pausa.

chorar é permitido aos homens se em cada
      lágrima houver refrigério, se o derramar salino
permitir o futuro adocicar do sorriso próximo.
o sorriso e o choro, embora explosões antagônicas,
    são estrofes de um mesmo soneto inacabado.

enquanto você cresce, cresce também meu amor
por ti que não posso oferecer em sorriso, mas o faço
em versos libertos que voam
                     e riscam o céu de brasília.

avista as borboletas, pequena?
o banquinho ajuda a enxergar a valentia em asas
que espreita e acompanha valentina crescer.