À Valentina Mouta
o choro é teu primeiro
rompante ante a
liberdade ofertada
pelo princípio da vida pós-uterina.
tuas pequenas mãos
colhendo cerejas imaginárias no ar
é a certeza de que nasceu poeta.
traça com o olhar
perdido cada estrofe
de teu soneto sobre o
primeiro arrepio de frio
que jamais terá sua
forma definitiva em palavras,
e assim é poesia plena
e primitiva,
única
essência do universo
antes da grande
explosão.
já bem sabe, pequena,
que dentro de ti
ocorrem centenas
de milhares de explosões a cada minuto,
minuetos em angústia
como choro de mozart,
mas que em raro momento
- se bem chegamos
perto como beethoven ao
piano na surdez -
soa gravatas borboletas libertas em
voo.
a poesia, pequena, é
borboleta que
não tem receio de novamente ser
lagarta
caso
o mundo em asas necessite de uma pausa.
chorar é permitido aos
homens se em cada
lágrima houver refrigério, se o derramar
salino
permitir o futuro
adocicar do sorriso próximo.
o sorriso e o choro, embora
explosões antagônicas,
são estrofes de um mesmo soneto inacabado.
enquanto você cresce,
cresce também meu amor
por ti que não posso
oferecer em sorriso, mas o faço
em versos libertos que
voam
e riscam o céu de brasília.
avista as borboletas, pequena?
o banquinho ajuda a
enxergar a valentia em asas
que espreita e acompanha
valentina crescer.