22.7.15

POEMA EM SOL MAIOR

Ao Arthur Versiani

quando li pela primeira vez
o poema de sete faces
de carlos drummond de andrade
fiquei com mais do que sete dúvidas.

   em meus treze anos
         não estava familiarizado
com o uso da palavra
    para além da comunicação
        precisa e direta - e os caminhos
  tomados por carlos possuem
tortuosidades que tornam a travessia
       emaranhado de perder-se e encontrar-se.

não compreendia a correspondência
cores-desejos das tardes, muito menos
           a ligação entre a lua e o conhaque
   com a comoção do diabo.
         mas sabia que o mundo era vasto
     e mais vasto também era meu coração.

não precisei de mais de dois minutos
para me atentar a vastidão que há em você,
boa parte devidamente preenchida pela música
que também corre em minhas veias através
das palavras - considerando que a poesia
           são as palavras em estado de melodia.

o som do piano de meu pai possivelmente
      foi meu primeiro alumbramento, o primeiro
  contato com algo maior do que o mundo.
   
se quando toca teu piano sente teus dedos
vibrando a cada nota, ressoando em cada batida
do teu coração, sabe o que é fazer poesia.

      poesia é estado vibratório,
é reverberar desejos que nem sempre
entendemos, mas nos parecem fazer sentido
          em certa perspectiva quando percurtimos
palavras e elas se encaixam onde deveriam.

        eu não devia te dizer,
e eis aqui nosso segredo:
     a poesia é boa quando soa
           como concerto número um
    para piano de tchaikovsky.