problemas hepáticos não
me permitem
doação de sangue.
escrevo poemas como quem sangra
para doar palavras às
almas enfermas.
desperta
em meio ao desespero
da não existência,
o poema sonâmbulo que
espera ser escrito e desprendido
de sua
essência uterina.
inspiração apnéica, salta como
o pensar vago
na madrugada, sem aviso prévio.
- as lutas de carlos ao menos eram pela manhã -
sem flauta encantada para condução,
pronomes me dobram,
adjetivos me escapam,
futuros do
pretérito me pregam peças.
meu conhecimento precário
da língua portuguesa
não me impede de
sangrar em sílabas.
deitado sobre a cama velha da casa nova
- as camas novas não rangem mais -
nossos pés miram na direção do banheiro.
recordo-me vagamente que tal posição não traz
boas vibrações segundo alguma cultura,
mas quem sabe
traga bons poemas.
sonho que maria
me abraça com força
quase a me sufocar,
mas constato,
inevitavelmente
acordado, se tratar apenas
de meu corpo em
cima
de meu braço impedindo
a livre circulação
sanguínea.
assusta-me
essa astúcia
fisiológica!