30.8.15

POEMA SONÂMBULO


problemas hepáticos não
            me permitem doação de sangue.
escrevo poemas como quem sangra
     para doar palavras às almas enfermas.

desperta
em meio ao desespero
da não existência,
      o poema sonâmbulo que
espera ser escrito e desprendido
                     de sua essência uterina.

inspiração apnéica, salta como
o pensar vago
na madrugada, sem aviso prévio.
- as lutas de carlos ao menos eram pela manhã -

sem flauta encantada para condução,
     pronomes me dobram, adjetivos me escapam,
             futuros do pretérito me pregam peças.
  meu conhecimento precário da língua portuguesa
          não me impede de sangrar em sílabas.

deitado sobre a cama velha da casa nova
- as camas novas não rangem mais -
nossos pés miram na direção do banheiro.

recordo-me vagamente que tal posição não traz
boas vibrações segundo alguma cultura,
               mas quem sabe traga bons poemas.

sonho que maria
      me abraça com força
quase a me sufocar,
   mas constato, inevitavelmente
acordado, se tratar apenas
            de meu corpo em cima
   de meu braço impedindo
        a livre circulação sanguínea.

assusta-me
     essa astúcia fisiológica!