Ao Arthur Versiani
quando li pela primeira
vez
o poema de sete faces
de carlos drummond de andrade
fiquei com mais do que
sete dúvidas.
em meus treze anos
não estava familiarizado
com o uso da palavra
para além da comunicação
precisa
e direta - e os caminhos
tomados
por carlos possuem
tortuosidades que
tornam a travessia
emaranhado de perder-se e encontrar-se.
não compreendia a
correspondência
cores-desejos das
tardes, muito menos
a ligação entre a lua e o conhaque
com a comoção do diabo.
mas sabia que o mundo era vasto
e mais vasto também era meu coração.
não precisei de mais de
dois minutos
para me atentar a
vastidão que há em você,
boa parte devidamente
preenchida pela música
que também corre em
minhas veias através
das palavras -
considerando que a poesia
são as palavras em estado de
melodia.
o som do piano de meu
pai possivelmente
foi
meu primeiro alumbramento, o primeiro
contato com algo maior do que o mundo.
se quando toca teu
piano sente teus dedos
vibrando a cada nota,
ressoando em cada batida
do teu coração, sabe o
que é fazer poesia.
poesia é estado vibratório,
é reverberar desejos
que nem sempre
entendemos, mas nos
parecem fazer sentido
em certa perspectiva quando
percurtimos
palavras e elas se
encaixam onde deveriam.
eu não devia te dizer,
e eis aqui nosso
segredo:
a poesia é boa quando soa
como concerto número um
para piano de tchaikovsky.